De cada vez que a economia global sai de uma crise, o ritmo de crescimento é menor e o endividamento é maior. No período entre crises de 1992 a 2000, as economias cresceram mais e o endividamento era menor. Entre 2000 e 2008 o crescimento económico já foi menor que o anterior, mas o crédito concedido, em percentagem do PIB, foi maior. Entre 2008 e atualmente, 2018, as economias crescem ainda menos que no período anterior e a dívida relativa está em níveis históricos.

A ideia atual de que existe um crescimento económico sólido,

sustentado e duradouro, e que é corroborada pelos bancos centrais, governos e organismos internacionais é ilusória. Apesar da turbulência, estamos numa situação de estagnação secular. O crescimento galopante que se vê é o da dívida dos Estados, famílias e empresas, que culminou, no ano passado, no rácio dívida/PIB mais elevado de sempre nos 320%.

A dívida total mundial foi de 237 triliões de dólares em 2017. Em 1999, era de 80 triliões de dólares e o valor relativo (rácio da dívida total mundial em percentagem do PIB) era uns preocupantes 180%.

 

A maioria dos bancos centrais, muitas vezes reféns dos executivos, e a maioria dos governos, amarrados às agendas eleitorais, tentam evitar a dor. Um ajustamento económico ajudaria a melhorar a economia e torná-la sustentável no longo prazo.

Mas as autoridades perpetuarão o problema com políticas que favorecem a procura, esquecendo o motor da economia: a oferta. Os governos têm optado pelo resgate e subsídio às partes menos produtivas, o que redundará em menor crescimento, baixa produtividade e mais dívida. Em suma, estagnação secular. A má alocação de capital é incentivada e o mau investimento é apoiado. Em todos os países, temos saído das crises com taxas de crescimento menores que nos ciclos anteriores, mas com dívidas cada vez maiores.

A solução passa pelo incentivo à poupança e ao investimento, reduzindo o crédito. A crise de 2008, que alguns consideram tão grave como a de 1929, pode repetir-se de forma aumentada. Já há alguns sinais: as bolsas emergentes descem há mais de um ano e algumas já estão em “bearmarket”, as europeias estão aquém dos máximos. As resistentes são as bolsas dos EUA que ainda há duas semanas se encontravam em máximos históricos. A curva de rendimentos da economia norte-americana está a alisar, com a subida das taxas de juro dos prazos mais curtos, o que indicia fadiga. A FED continua empenhada na subida dos juros, com a inflação mais perto dos 3% e a economia em pleno emprego. Caso a rentabilidade da obrigação do tesouro a 10 anos chegar aos 4% ou 4.5%, a recessão poderá ser uma realidade.

Economista / Sénior Trader do Banco Carregosa

Paulo Rosa, Semanário “Vida Económica”, 19 outubro 2018