Na semana passada os dois principais índices chineses, o tecnológico Zhenzhen e o Shanghai, registaram mínimos dos últimos quatro anos (os valores mais baixos desde outubro de 2014), devido aos receios de abrandamento económico. Desde os máximos, verificados em meados de janeiro, o Zhenzhen perde quase 30%.

Porém, e em contraponto, as bolsas norte-americanas registam os valores mais altos de sempre (Dow Jones, S&P500 e Nasdaq100) beneficiando do bom comportamento das empresas tecnológicas e das taxas de juro que, apesar da subida, continuam baixas e ainda não pressionam as bolsas.
No dia 26 de setembro a Reserva Federal subiu a taxa de juro para 2.25% e, muito provavelmente, voltará a subir 25 pontos base, para 2.5%, a 19 de dezembro.

Já em 2015 e 2016 as bolsas chinesas foram penalizadas pelo receio de abrandamento económico. Na altura registaram fortes perdas que não voltaram a recuperar. As tensões comerciais continuam a pressionar a economia chinesa e a moeda, reflexo do seu cariz exportador maioritariamente para os EUA.
O significativo défice comercial dos EUA pode justificar esta política por parte da administração de Donald Trump, no intuito de corrigi-lo.

O défice comercial dos EUA, à volta dos 600 mil milhões de dólares anuais, 3% do PIB norte-americano, representa grosso modo o superavit chinês, alemão e japonês.

Todavia, os ajustamentos comerciais, que podem fazer sentido em termos locais e no curto prazo, não devem ser realizados com protecionismos ou políticas nacionalistas.

E, na realidade, a economia norte-americana é a menos protecionista dos três grandes blocos económicos mundiais (EUA, Zona Euro e China).

A atual guerra comercial é semelhante à do período pós-grande depressão de 1929 no que concerne ao renascer dos protecionismos. Uma das principais medidas utilizadas pelos países para ultrapassar a crise financeira e económica foi fecharem-se sobre si próprios.
O período atual é algo análogo e vale a pena refletir sobre o que aconteceu depois do período entre 1930-40 quando pensamos sobre as atuais relações EUA-China.

O Renminbi/Yuan continua a espelhar o enfraquecimento da economia chinesa. Perde cerca de 10% desde o início do ano, apesar das autoridades referirem que não vão usar a sua moeda como “arma” na guerra comercial. O yuan afundou quase 1% no dia 23 de setembro, depois de a China ter cancelado as conversações comerciais com os EUA. Decididamente, esta é mais uma prova de que, neste diferendo, o elo mais fraco é o país asiático.

A excelente formação existente na maior parte dos países desenvolvidos culmina, em parte, na emigração para os EUA de jovens prodígios de todo o mundo no campo da engenharia e biotecnologia. Na China, na Indonésia, na Alemanha, em França, no Dubai, muitos jovens ambicionam ir para grandes multinacionais norte americanas. É um facto há cerca de cem anos. Já Einstein emigrou para os EUA tal como os grandes cientistas europeus do pós-guerra. As maiores capitalizações bolsistas, a nível mundial, são empresas tecnológicas norte-americanas: Apple, Amazon, Google, Microsoft e Facebook.

A entrada em bolsa de novas empresas é sucesso garantido nos EUA. A 21 de setembro a OPV da portuguesa Fartech subiu à volta de 40% na estreia na bolsa de Nova Iorque.

A dívida pública norte-americana é de 21 triliões de dólares, cerca de 105% do PIB nominal, e é detida em grande parte por institucionais, empresas e famílias norte-americanas. Existe um mito de que a China tem um grande poder de influenciar o rumo da dívida americana, mas tem apenas 5%, a par do Japão. Estes dois países asiáticos acumulam divisas sobre os EUA devido ao comércio internacional, que lhes é favorável, e compram dívida pública americana para beneficiar dos juros à volta de 3% e da segurança do dólar.

O DAX30 alemão está a 10% dos máximos, refletindo o cariz exportador da economia germânica, desde os automóveis à área farmacêutica e tecnológica. O francês CAC40 está a apenas 3% dos máximos históricos.

 

Paulo Rosa, in Semanário “Vida Económica”, 28 setembro 2018