O professor Daniel Kahneman nascido em Tel Aviv a 5 de março de 1934, é mais conhecido como o único psicólogo, que devido a sua pesquisa em economia comportamental e psicologia da tomada de decisão, a ter ganho em conjunto com Vernon Smith o prémio Nobel em  Ciências Económicas, é Professor Emérito em Princeton.

O professor Kahneman oferece-nos na sua pesquisa uma interessante perspetiva sobre a maneira como pensamos e tomamos decisões, bem como em que nos baseamos na tomada dessas decisões. Embora a sua pesquisa cientifica esteja cheia de formulas matemáticas, o verdadeiro “sumo” do seu trabalho é extremamente simples e fácil de entender, e vamos aqui empregar as suas descobertas relacionadas com decisões de investimento, trading e perceção do mercado.

No seu insight do nosso cérebro Kanhneman distingue o que chama de dois sistemas, estes sistemas são uma representação extremamente simplificada dos complexos processos que ocorrem no nosso cérebro, mas que tem funções distintas.

Estes dois sistemas lutam entre si a cada segundo da nossa existência, e é através deles que tomamos todas as nossas decisões. Saibamos ou não.

Vamos debruçar-nos sobre o Sistema 1 que é a parte “Homer Simpson” do nosso cérebro, em contraposição com o Sistema 2 que é o Mr Spock.

O foco no Sistema 1, é um esforço para trazer a racionalidade à parte irracional e automática da nossa existência, quantas decisões importantes que nós tomamos, são influenciadas por esta irracionalidade?

Como podemos sobrepor a nossa racionalidade de modo a enviar para segundo plano?

Enquanto o Mr. Spock, consegue ser condicionado e treinado a “agir” de uma determinada forma, já o Homer Simpson é completamente imprevisível no seu processo de aprendizagem

Sistema 1  – O Irracional

Quantas vezes chegamos a casa e não nos lembramos no caminho que fizemos? Falamos em piloto automático. E de certa forma é este Sistema que usamos mais na nossa vida, rápido, automático, emocional e inconsciente.

É a esta parte do nosso cérebro que recorremos quando perante uma pergunta damos uma resposta instantânea e sem pensar.

Facilmente verificada esta nossa ansiedade de dar uma resposta pronta é o problema posto a seguir;

Um taco de basebol e uma bola custa 110€

O taco custa mais 100€ que a bola

Quanto custa a bola?

A maior parte irá responder sem pensar no problema chega a rápida conclusão que a bola custa 10€

Esta resposta foi condicionada pelo sistema 1, que perante uma pergunta aparentemente simples dá uma resposta simples, mas também errada.

Vejamos a matemática;

x=bat
y=ball
x+y=110
x=y+100
=> y+100+y=110=>2y=10=>y=5

A resposta correta é 5€, e a conclusão de que não podemos confiar na nossa intuição para resolver corretamente todos os problemas aparentemente simples que nos aparecem a frente é simplesmente aterradora.

Na verdade somos facilmente influenciados pela Heuristica (atalhos mentais) e Biases

Vejamos alguns fatores que condicionam as nossas decisões.

Efeito de Ancoragem – a tendência para sermos influenciados por números irrelevantes.

  • Adivinhar a idade de Gandhi quando morreu.
  • Se perguntarem a um grande numero de pessoas se o Gandhi tinha mais ou menos de 100 anos quando morreu as respostas são mais elevadas que se perguntar se tinha mais de 40 anos

A inserção do numero 100 condiciona as respostas, porque não sabendo a resposta correta maior parte das pessoas tenta adivinhar baseado no numero relacionando fatos e fragmentos dispersos na sua mente, filmes, noticias, etc.

Aplicando a investimentos em ações, quantos de nós não damos extrema importância a cotação máxima e mínima de uma ação? Não estaremos a ser vitimas deste efeito de Ancoragem, ou indo um pouco mais longe nas analises técnicas, os fibonnaci retracements, os suportes e resistências? Serão essas as nossas ancoras necessárias ao nosso subconsciente?

Disponibilidade Heuristica – a tendência que temos de considerar os dados mais presentes, ou que nos lembramos mais recentemente como um atalho mental.

A nossa perceção do imediato, quer estejamos a atravessar um Bull ou Bear market, condiciona a nossa analise levando-nos a olhar os mercados sobre um ponto de vista excessivamente otimista ou pessimista, prejudicando muitas vezes a nossa racionalidade (Sistema 2)

– Substituição

A capacidade que o nosso Sistema 1 tem de substituir uma pergunta difícil por outra mais simples de responder, para ilustrar este atributo Prof. Kahneman criou o “Linda Problem” aos sujeitos da experiencia foi contada uma história sobre uma rapariga imaginaria “Linda” uma jovem estudante, solteira, brilhante muito interessada com problemas sociais como a discriminação e justiça social

  • Foi perguntado se seria mais provável que a “Linda” fosse uma empregada bancaria ou se era mais provável que ela fosse uma empregada bancaria e feminista ativa

A esmagadora maioria dos sujeitos respondeu que era mais provável que Linda fosse uma empregada bancaria feminista.

Esta conclusão viola as regras da probabilidade porque será mais provável que a Linda seja empregada bancaria porque nem todas as empregadas bancarias são feministas.

O condicionamento que ocorreu foi a substituição da pergunta original por; Será Linda feminista? O Sim foi esmagador

– Otimismo e aversão a perdas

Kahneman introduz o conceito de What You See Is All There Is (WYSIATI) o que nós vemos é tudo o que existe, esta teoria refere que quando somos confrontados com uma tomada de decisão a nossa mente primeiro pondera o que conhece (Known Knowns) mas raramente pondera aquilo que desconhece (Known Unknowns), isto é, aquilo que sabe que é relevante mas sobre a qual nada sabe, e por fim ignora completamente aquilo que não sabe (Unknown Unknowns)

Segundo este entendimento do Sistema 1, existe uma tendência para sobre simplificar os problemas, e não levar em conta a complexidade do mundo em que vivemos baseado em fragmentos / overdose de informação muitas vezes falsa ou irrelevante.

– O efeito de enquadramento

A forma como as escolhas são apresentadas ao sujeito tem peso na decisão, o que preferia que lhe dissessem que a operação tem uma taxa de sucesso de 90% ou uma taxa de mortalidade de 10%?

Eu escolho a primeira, e sei que ambas as hipóteses são iguais.

– Sunk-Cost

A tendência que o investidor tem para continuar a investir em negócios com poucas probabilidades de sucesso nos quais já investiram uma parte significativa do seu capital, em parte para evitar encarar a realidade de um mau investimento, poder-se-á traduzir como enterrar capital.

Como podemos controlar o nosso Homer Simpson?

Sempre que tomarmos alguma decisão importante, considere estes princípios acima descritos.
Será que não estará a ser influenciado por algum deles? Reveja ponto a ponto e submeta a decisão para o seu “Mr Spock”.
Lembre-se que uma resposta instantânea raramente será a mais acertada, evite os FOMO’s e os FUD’s (e outras palavras da moda) sendo racional e procurando-se informar mais sobre assuntos sobre os quais conhece pouco, debruce-se sobre os Known Unknowns já que os Unknown Unknowns ou imponderáveis não são palpáveis.

Bibliografia;

Thinking, Fast and Slow, Autor Daniel Kahneman
Editora; Farrar, Straus and Giroux
ISBN: 978-0374275631