O comportamento humano foge bastante ao que é racional e essa falta de racionalidade é bem patente nos vários viés estudados na finança comportamental.

Um grande problema para maioria dos investidores é não saber cortar as perdas, o que em parte é explicado pela teoria do prospeto, e não aceitar que estão errados em relação ao mercado.

Se a teoria do prospeto está explicada no meu artigo “don’t feed the losses” (http://www.associacaodeinvestidores.com/index.php/artigos-e-teses/63-artigos/81-do-not-feed-the-losses), a dificuldade de um investidor aceitar que está errado vou explicar com algo que está muito presente nas relações humanas do dia a dia: a rejeição.

Para ser mais fácil, vou fazer uma analogia com o rompimento de uma relação.

Várias pesquisas sugerem que as mulheres são mais dadas aos boatos, bisbilhotice e mexerico que os homens, sendo que segundo Hesse & Hagen (2009, apud Reynolds, 2016) tal é endereçado à competição pela reputação. Embora o estudo em causa vise a competição entre as mulheres, a propensão destas a uma menor reserva sobre a sua vida sentimental e julgamentos de terceiros é notório, e também Perilloux & Buss (2008) chegaram à conclusão que as mulheres, mais do que os homens, por exemplo, experimentaram sequelas maiores com o fim da relação.

Quero isto dizer que, em geral, as mulheres têm uma maior propensão a sentirem-se piores no fim de um relacionamento, a exporem-se mais e até a falaram menos bem dos seus parceiros.

De acordo com os aludidos autores Perilloux & Buss (2008), os rejeitados, comparados com aqueles que rejeitaram, experimentaram mais depressão, perda de auto-estima e  ruminação. Por sua vez, os rejeitadores, por outro lado, experimentaram o custo de reputação de serem percebidos pelos outros como cruéis.

Ou seja, de forma simples, quando uma relação termina, o “normal” é que quem foi rejeitado sinta uma perda de auto-estima, sinta em baixo e fale mal do seu ex-parceiro e, por outro lado, o rejeitador tenha cuidado de não ser percebido com cruel.

À parte das diferenças de género, que no que diz respeito ao mercado de capitais não existe grandes evidências das conclusões supra referidas, avancemos para aquilo que é o síndrome da rejeição.

Poupo-vos daqui para a frente de citar os estudos em que me baseio, para não ser fastidioso, mas continuarei a basear-me em grande parte na literatura existente sobre o comportamento humano.

 

COMPORTAMENTO POST-ROMPIMENTO

Geralmente o rejeitado cria uma narrativa cínica no sentido de projetar a culpa do final da relação no ex-parceiro, em vez de assumir qualquer responsabilidade no fim da relação.

O quadro destes comportamentos está bem estudado e é sempre igual: o ex-parceiro é cruel, mau, ingrato, desonesto, egocêntrico, narcisista, egoísta, desequilibrado, cheio de problemas e não está bem com ele próprio. Invariavelmente sustentam estás teorias com artigos de revista ou definições de revistas para traçarem o perfil mais conveniente do rejeitador.

Já a pessoa (“vítima”) é boa, justa, honesta, amável e iluminada, mas sem sorte na escolha dos parceiros (podendo até usar exemplos de anteriores relações falhadas para acentuar o seu ponto de vista). Ou seja, são apenas vítimas. Também aqui procuram justificar não só com anteriores relações, como com teorias da manipulação durante toda a relação que as impediu de ver o quanto o rejeitador era mau e cruel.

Geralmente, quem age dessa forma está inseguro, com baixa auto-estima e necessita do aval dos amigos para reforçar temporariamente o ego e sentir melhor sobre si mesmos – está necessidade é maior, quanto mais a pessoa sentir, lá no fundo, que foi a causa desse rompimento.

O auto-engano é usado  para evitar sentir culpa e serve para racionalizar, justificar (e desculpar) qualquer dor e desconforto e aliviar os sentimentos  de fracasso e inadequação que geralmente acompanham o fim de uma relação.

Tudo isto é uma mecanismo psicológico de defesa que é reforçado pelos amigos e familiares que com a pouca  informação unilateral e enviesada que recebem e porque são amigos (estão ali para a suportar independente da razão), reforçam essa vitimização ao mesmo tempo que avalizam todo a racionalização e justificação apresentada pela pessoa rejeitada.

A maioria das pessoas estão familiarizadas, direta ou indiretamente, com estas situações pelo que é fácil compreender o que escrevi acima. Mas quem investe no mercado de capitais terá maior dificuldade em percecionar o síndrome da rejeição.

Para quem investe no mercado de capitais, ou tem amigos que investem, certamente conseguirão lembrar-se das vezes que disseram ou ouviram alguém dizer que estavam certos mas o mercado foi cruel, filho da mãe e fez uma coisa que não é normal e não devia acontecer. Essas pessoas vão sempre acusar o mercado pelas suas perdas e vitimizarem-se com a falta de sorte, pois assumem que são os únicos que estavam corretos e o mercado é que foi cruel, geralmente afirmam que o mercado foi manipulado.

A verdade é que grande parte do sucesso de um investidor não está na escolha das melhores ações para investir (apesar de perderem 80% do tempo nesse processo de seleção) – pois 80% do movimento está no sector e apenas 2% dos retornos é explicado pelo market timing. O sucesso de um investidor está, essencialmente, no money and risk management e uma boa gestão do risco e dinheiro tem de estar afastada destes viés comportamentais, tal como devem ser afastados das nossas relações.

Bibliografia:

Baumeister, R. F., Reynolds, T., Winegard, B., & Vohs, K. D. (2017). Competing for love: Applying sexual economics theory to mating contests. Journal of Economic Psychology, 63, 230-241. DOI: 10.1016/j.joep.2017.07.009

Perilloux, C., & Buss, D. M. (2008). Breaking up romantic relationships: Costs experienced and coping strategies deployed. Evolutionary Psychology, 6(1), 164-181. http://dx.doi.org/10.1177/147470490800600119

Reynolds, T. (2016). Your reputation precedes you: Women’s competition through social information. Master’s thesis, Florida State University. Protest 10120758.

Reynolds, T., Baumeister, R.F., & Maner, J. K. (2017). Competitive reputation manipulation: Women transmit romantic rivals’ social information strategically.

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Octávio Viana