Segundo o Departamento de Energia dos EUA, a produção mundial de petróleo aumentou mais de 13% nos últimos nove anos, de 72 milhões de barris diários em 2009 para 81,6 milhões de barris por dia em fevereiro de 2018. Foi a resposta ao aumento da procura por esta matéria-prima que continua a ser a principal fonte energética da economia mundial.

Paradoxalmente, cada vez mais se fala de energia limpa, de carros elétricos, de energias renováveis (eólica, solar e hídrica).

Em boa verdade, parte da eletricidade utilizada para abastecer os carros elétricos é proveniente da produção e queima de hidrocarbonetos, nomeadamente petróleo. O petróleo continua a ser o motor da economia.

A produção na Arábia Saudita, depois dos acordos de Viena há um mês, aumentou 500 mil barris diários de 10 milhões para 10,5 milhões. Os países da península arábica não querem perder quota de mercado, uma vez que o petróleo extraído do xisto nos EUA continua a crescer com a reabertura de vária empresas do setor. Quanto mais elevada for a cotação, mais empresas entrarão no mercado, aumentando a oferta e pressionando o preço do petróleo em baixa.

A lei da oferta e da procura no longo prazo acaba por reequilibrar o mercado.

Em virtude disto, é provável que a cotação do petróleo regresse a valores à volta dos 50 dólares/barril ou mesmo mais abaixo nos próximos tempos Preocupada com o aumento de produção fora da organização, a OPEP anunciou, a 11 de julho, que iria repor a produção para não perder quota de mercado. A seguir, a cotação do Brent registou a maior descida diária em termos absolutos desde 27 de novembro de 2014 de 5,78 dólares/barril, dos 78,83 USD para 73,05 USD, uma queda de 7,5%. No entanto, a OPEP espera que haja mais oferta de petróleo fora do grupo para suprir o aumento da procura no próximo ano, dando a entender também que mais cedo ou mais tarde os 1,8 milhões de barris diários retirados do mercado no início de 2017, pela OPEP e Rússia, serão repostos integralmente.

A produção de petróleo nos EUA tem aumentado consideravelmente nos últimos sete anos, após 40 anos consecutivos de descida desde os máximos históricos nos 10 milhões de barris diários alcançados em outubro de 1970 para cerca de cinco milhões em 2010. Nos últimos sete anos a produção duplicou, sustentada na exploração do “Shale Oil” (petróleo produzido através de fragmentação de xisto), e encontra-se novamente em máximos históricos nos 10 milhões de barris diários no final de 2017.

O crescimento da oferta mundial de petróleo fora do grupo OPEP será consideravelmente mais forte em 2018, em 2,1 milhões de barris por dia, o maior valor desde 2014. A EIA (Departamento de informação energética dos EUA) prevê que a produção de petróleo nos EUA aumente para os 10,8 milhões de barris diários em 2018 e para 11,8 milhões barris em 2019. Os EUA estão a caminho de voltar a ser o maior produtor mundial de petróleo!

Os três maiores produtores da história recente são a Rússia, a Arábia Saudita e os Estados Unidos. Desde 2014 todos estão a produzir perto das suas taxas de pico de 9 a 11 milhões de barris por dia. A Arábia Saudita e a Rússia são, atualmente, os maiores exportadores de petróleo, mas a administração norte-americana prevê que o país seja um exportador líquido de petróleo e gás até 2022, a primeira vez desde 1953.

Em suma, a produção de petróleo vai continuar a aumentar incentivada pela elevada cotação, pela política e estratégia dos EUA de autossuficiência, e pelo aumento da produção por parte da OPEP (apesar das crescentes divergências dentro do grupo) que prefere manter a quota de mercado em detrimento do preço. Isto redundará numa provável descida da sua cotação, que pressionará ainda mais os já debilitados mercados emergentes, cujas economias e bolsas têm sido penalizadas desde o início do ano.

Paulo Rosa, In “Vida Económica”, 20 de julho de 2018