Na China, a economia abranda. Mundialmente, os protecionismos comerciais intensificam-se, nomeadamente entre os EUA e a China. O comportamento negativo dos mercados acionistas chineses tem refletido estas circunstâncias.

O principal índice chinês, o Shanghai compósito, está nos 2800 pontos, a níveis de maio de 2016, e já perde 22% desde o máximo relativo alcançado a 29 de janeiro, e abaixo 16% da média móvel de 200 dias (MA200), ou seja, este índice encontra-se, atualmente, em bearmarket (tendência de baixa). É a quarta vez que acontece desde os máximos verificados em junho de 2015.

Será um bearmarket duradouro? São cada vez mais os sinais de correção dos mercados nos últimos três anos.

O recrudescimento dos protecionismos tem afetado mais a China do que os EUA. Já no século XIX, David Ricardo, o célebre economista britânico de origem portuguesa, frisou, na sua teoria das vantagens comparativas, o benefício do comércio internacional.

O índice tecnológico chinês, o Shenzhen compósito, registou o seu máximo histórico nos 3157 pontos, a 12 de junho de 2015, e desde então já recuou 50%. Neste momento cota nos 1597 pontos, valores de setembro de 2015. O Hang Seng está abaixo da MA200 há uma semana.

As bolsas chinesas são as primeiras a entrar em bearmarket entre os grandes blocos económicos mundiais. Será um sinal para as restantes bolsas e economia mundial? Neste momento, a gradual aceleração da guerra comercial tem penalizado mais a China do que os EUA.

O Nasdaq100, designadamente as big tech que estão presentes em todo mundo, registaram fortes quedas na passada segunda-feira. O agudizar da guerra comercial é altamente prejudicial para estas gigantes multinacionais.

A moeda chinesa em relação ao dólar americano (USD/CNY) desceu cerca de 5% desde o máximo relativo registado em março passado. Este facto espelha não só as políticas expansionistas das autoridades monetárias chinesas, mas também o abrandamento económico e o avolumar das medidas protecionistas a nível mundial que penalizam a economia chinesa e a sua moeda. As companhias aéreas têm sido penalizadas com a queda do yuan que aumentou os custos das suas dívidas denominadas em dólares. Os promotores imobiliários têm sofrido quedas.

Um hipotético colapso do crédito na China prejudicará o sentimento. O Financiamento Social Total da China, a medida mais ampla para aferir o novo crédito, caiu, em maio para o valor mais baixo em quase dois anos. Há pouca esperança numa recuperação, já que os investidores se preparam para os efeitos secundários.

O pessimismo continua a crescer, e muitas empresas estão à beira de colapsar sob o peso das suas dívidas e várias emissões de obrigações poderão entrar em incumprimento (default).

O bearmarket nos mercados chineses pode redundar num círculo vicioso de consecutivos abrandamentos económicos e perdas nos mercados. Os agentes económicos, famílias e empresas, têm menos dinheiro devido à queda das bolsas, logo consomem menos e as empresas cotadas apresentam lucros cada vez menores e, consequentemente, as cotações caem…

Este fenómeno penaliza a economia mundial. A consecutiva subida das taxas de juros por parte da Reserva Federal norte-americana, mais cedo ou mais tarde, irá ter uma repercussão negativa quer na economia dos EUA, quer nas bolsas, com os tomadores de empréstimos a terem cada vez mais dificuldade em honrar os seus compromissos.

As taxas de juro de longo prazo poderão subir acima dos 3% e alcançar os 4% ou 4.5%, e sinalizar uma recessão, pressionadas também, caso os chineses necessitem, pela venda massiva de obrigações do tesouro americano por parte da China…

Paulo Rosa,In “Vida Económica”, 29 de junho de 2018