A famosa curva de Phillips, teoria desenvolvida pelo economista neozelandês William Phillips há 60 anos, relaciona a descida da taxa de desemprego com a subida da taxa de inflação de preços no consumidor e vice-versa.

Essa teoria explica a correlação negativa entre as duas variáveis macroeconómicas.

O curioso é que esta relação não se tem verificado nos últimos oito anos, nomeadamente na economia norte-americana. A taxa de desemprego desceu dos 10% em 2010 para 4.1% e a taxa de inflação manteve-se baixa. Na economia alemã também temos observado uma descida significativa da taxa de desemprego a par de uma baixa taxa de inflação.

Na década de 70, essa teoria deixou de ser verificada empiricamente, principalmente devido ao choque petrolífero, quando assistimos a altas taxas de inflação e de desemprego. Os economistas norte-americanos Milton Friedman e Edmund Phelps chegaram à conclusão que determinante é a variação da inflação e não a taxa, depois de terem em conta o método das expectativas adaptativas para a inflação. No longo prazo a inflação observada será igual à esperada, e não se verificará nenhuma relação inversa entre a inflação e o desemprego.

Os países desenvolvidos são pautados por baixas taxas de inflação e de desemprego. Mais produção é sinónimo de descida de preços, logo uma descida da taxa de desemprego é sinónimo de uma descida da inflação de preços no consumidor e vice-versa.

A Suíça, o Japão, a Alemanha, os EUA, entre outros países desenvolvidos, têm taxas de desemprego baixas. Estão praticamente em pleno emprego e a inflação é também baixa. Já em países subdesenvolvidos, muitas vezes devido à política dos governos – como a Venezuela e outros países da América Latina e do continente africano – observamos taxas de desemprego elevadas e taxas de inflação também bastante altas. Sem produção, a taxa de desemprego é elevada e como não existe nada para comprar, os preços dos bens e serviços sobem.

Perante a inversão da curva de Phillips, com taxas de desemprego e de inflação baixas, temos assistido a máximos históricos diariamente, nos últimos meses, em várias das principais bolsas mundiais, desde a principal bolsa de ações germânica (Frankfurt) aos máximos históricos diários dos índices norte-americanos, S&P500, Nasdaq100 e Dow Jones 30.
No curto prazo haverá alguma relação negativa entre estas variáveis macroeconómicas.

Mas no longo prazo a taxa de inflação não influencia o nível de emprego. No muito longo prazo quase que poderemos afirmar que as economias com baixas taxas de desemprego, ou seja as economias mais desenvolvidas do mundo, estão associadas a baixas taxas de inflação, e por arrasto a baixas taxas de juro também, logo a curva de Phillips não fará qualquer sentido.

Paulo Rosa, In “Vida Económica”, 12 de janeiro 2018